Encontro Interlegis discute desafios lançados pela tecnologia 5G

Especialistas de diversos setores abordaram temas como segurança cibernética, internet das coisas e indústria 4.0. Segundo eles, o Brasil precisa escolher rápido como adotar a nova tecnologia

Nesta quarta-feira, 19 de fevereiro, o Encontro Interlegis – “5G – Um novo mundo. Uma nova realidade. Tecnologia X Privacidade”, debateu os aspectos mais inovadores e polêmicos das redes 5G.

Segundo os especialistas, a tecnologia 5G é um grande salto evolutivo para as redes móveis em todo o mundo.  De acordo com a indústria, ela vem sendo desenvolvida para suportar o crescente volume de informações que trafega pelos bilhões de dispositivos celulares ao redor do planeta. Além disso, ela promete conexões cada vez mais rápidas, menos consumo de energia, aumento no número de aparelhos conectados por área e melhoria na duração das baterias.

Apesar das evidentes vantagens, a tecnologia 5G vem despertando preocupação junto a governos, entidades civis e legisladores de todo o mundo. O avanço da tecnologia pode tornar a proteção de dados cada vez mais difícil e tornar mais vulnerável a privacidade do cidadão comum. O leilão do 5G está marcado para novembro no Brasil deve movimentar 20 bilhões de reais e inclui a gigante chinesa Huawei.

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O senador Lasier Martins enviou uma mensagem que foi lida pelo Diretor-Executivo do Interlegis, Márcio Coimbra. O parlamentar explicou que na condição de ex-presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, vem acompanhando de perto os esforços dos setores público e privado na escolha do que seria o melhor modelo de tecnologia 5G em território nacional.  – Nossa população, uma das maiores consumidoras de comunicação digital, e ávida por novas mídias, espera por mais este avanço. Quem não quer fazer o download de um filme de três horas em apenas alguns segundos – afirmou o senador em nota.

Também de acordo com o parlamentar, além de melhorar a qualidade da internet, a tecnologia 5G terá um papel fundamental no desenvolvimento econômico. Esta aceleração na conectividade criará múltiplas oportunidades em diversos ramos da vida humana. Ela será base para aplicação de tecnologias como a inteligência artificial, a internet das coisas, o aprendizado das máquinas (machine learning), além de afetar a telemedicina e a robotização em geral.

Já o diretor-executivo Márcio Coimbra, pediu equilíbrio no debate sobre o tema e abordou as questões diplomáticas que envolvem o 5G. Ele lembrou o recente anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que irá parar de compartilhar informações de inteligência com países que realizem parceria com a gigante chinesa Huawei, acusada pelos norte-americanos de roubar informações cibernéticas. Márcio Coimbra salientou a expertise do grupo de palestrantes convidados para o debate. Segundo ele, com o apoio do Presidente do Senado Davi Alcolumbre, e do Primeiro Secretário, Sérgio Petecão, o Interlegis, se torna um verdadeiro “Think Tank” sob a atual gestão.

Paulo Foina, do Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa Tecnológica e Renovação afirmou que a tecnologia 5G não é simplesmente uma evolução da 4G. Ele comparou a revolução do 5G ao aparecimento da Internet, décadas atrás. – Com o 5G você não vai mais precisar do WIFI. Todos os seus equipamentos vão conversar entre si em uma velocidade 100 vezes maior do que a oferecida pelo WIFI hoje em dia – exemplificou Foina.  Segundo ele, isto deve baratear o custo da telecomunicação como um todo. Ao mesmo tempo, dada a atividade dos brasileiros na internet, a tecnologia 5G terá um impacto brutal em nossa vida cotidiana. Dados fornecidos pelo painelista mostram que São Paulo é a maior rede de usuários de WAZE do mundo em termos de cidade. 22% de todos os usuários de UBER do mundo são brasileiros. No FaceBook somos a terceira maior base de usuários do mundo com 130 milhões de usuários.

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José Camaro Brito, do Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), destacou a urgência na adoção da tecnologia 5G. O INATEL está localizado em Santa Rita do Sapucaí, pequena cidade ao sul de Minas Gerais com 40 mil habitantes. O município concentra 150 empresas de base tecnológica, movimenta 3.2 bilhões anualmente e emprega cerca de 14 mil pessoas nesta indústria. Segundo Camaro Brito estamos atrasados e não podemos perder esta oportunidade. De acordo com o pesquisador, a tecnologia 5G impõe desafios que serão enfrentados em breve. – Teremos que trabalhar com frequências mais altas, células menores e mais antenas instaladas nas cidades. Com a legislação que nós temos hoje para instalação de antenas, o 5G não sai do lugar. As operadoras de telecomunicação encontram uma dificuldade infinita no processo de autorização.- afirmou Camaro Brito, criticando a burocracia neste setor.

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Representando as Forças Armadas, o General Amin, Comandante Conjunto de Segurança Cibernética, apontou a vulnerabilidade de dados e a segurança das informações militares como pontos sensíveis na adoção da tecnologia 5G. O militar baseou sua palestra em uma pergunta - Tecnologia 5G, se, quando e como? Segundo ele não temos opção e a tecnologia já está em curso. Resta apenas saber como iremos adotá-la . – Este como traz questões em todos os campos do conhecimento. Questões tecnológicas, políticas, comerciais, legais, judiciais, nas relações internacionais -  Amin também afirmou que a explosão de conectividade fornecida pelo 5g será um fator disruptivo e imprevisível em termos de futuro.

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Guilherme Pinheiro do Instituto de Direito Público, abordou aspectos legais e regulatórios da tecnologia 5G no Brasil. Segundo ele, a “ubiquidade” trazida pelo 5G vai afetar a regulação do setor. Os especialistas explicaram o caráter “ubíquo” desta tecnologia no sentido de ocupação de todos os espaços e dispositivos com os quais convivemos no cotidiano. Geladeiras que irão conversar com a plataforma de um supermercado. Casas inteligentes que “pressentem” a chegada do proprietário e colocam a cafeteira para funcionar. Pinheiro apontou questões tributárias que podem atrapalhar a implementação do 5G no Brasil, como o alto valor das taxas de fiscalização de Instalação e Funcionamento (TFI) cobradas sobre os chips dos dispositivos no país. O projeto 7656/2017 que já foi aprovado na Câmara e se encontra no Senado, promete diminuir drasticamente o valor cobrado sobre os chips.

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O ex-deputado e hoje articulista dos jornais Estado de São Paulo e Correio Braziliense, Paulo Delgado, defendeu uma regulação global do setor para que não caiamos em uma “barbárie digital”. Delgado forneceu como exemplo a própria imprensa que utiliza informação de hackers para atacar autoridades no país. Delgado vem escrevendo uma série de artigos sobre a tecnologia 5G cujo o foco é o fim da privacidade. Durante sua palestra, Delgado afirmou que o grande desafio do desenvolvimento é encaixar as pessoas – Não vejo nenhuma vantagem em ser conectado mas perder o livre-arbítrio, a sensibilidade e o rosto humano. Invenções e inovação devem ser vistas com lupa, como se olha um diamante – afirmou o ex-deputado, que defendeu um olhar para os “perdedores” na jornada tecnológica.

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Encerrando os debates, o embaixador Achilles Zaluar, do Ministério das Relações Exteriores, destacou a economia como fator para a adoção da tecnologia 5G. Segundo ele, a produtividade de nossa economia está estagnada faz 40 anos. – Nós perdemos a terceira revolução industrial. O Brasil, com 200 milhões de pessoas, não pode viver somente de exportar peito de frango, minério de ferro e soja. Não há nenhum país do mundo que tenha passado por um processo de desindustrialização precoce tão grave quanto o Brasil. A gente tem que dar uma virada para entrar no século XXI de forma diferente – afirmou Zaluar, apontando a tecnologia 5G como um caminho inevitável para o país.


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𝑮𝒂𝒍𝒆𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝒇𝒐𝒕𝒐𝒔.