As redes sociais não foram feitas para a democracia

Para a convidada da Live Momento Político desta quinta-feira (24), as redes não permitem opiniões divergentes e o motivo não é a polarização política entre esquerda e direita.

25/09/2020

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Ela já ganhou 14 prêmios de jornalismo, trabalhou com os coordenadores de mídias sociais das campanhas do presidente Barack Obama, eleito duas vezes presidente dos EUA, e fez parte da equipe que implementou as redes sociais do Supremo Tribunal Federal, a primeira Suprema Corte do mundo a utilizar esses canais de comunicação institucional com o público. O currículo é da jornalista e escritora Madeleine Lacsko, convidada do quarto episódio da Live “Momento Político”, exibida semanalmente no perfil do diretor-executivo do Interlegis, Márcio Coimbra, no Instagram.

Para fechar o primeiro mês da Live, que debate política nacional e internacional, o tema escolhido foi o impacto das redes sociais e da desinformação na democracia. De acordo com Madeleine, o conteúdo não é o principal nas redes, mas a forma como são escolhidos os grupos para receber esse conteúdo.

- A inteligência artificial traça o perfil daqueles que irão se submeter a determinado grupo e a determinadas opiniões. O conteúdo das mensagens é direcionado de acordo com o padrão de emoções esperado. Não importa se a notícia é verdadeira ou mentirosa, o objetivo é conseguir chegar nas pessoas que se pretende alcançar para apoiarem ou condenarem qualquer conteúdo – afirmou.

Márcio Coimbra lembrou que quando viveu nos Estados Unidos soube que as empresas podem comprar a geolocalização dos usuários das redes, obtida por plataformas de busca, para vender ingressos de shows, por exemplo.

- Com a geolocalização é possível identificar quem esteve no último show de uma banda e a publicidade para o próximo evento vai aparecer primeiro para esse grupo que, muito provavelmente, terá interesse em comprar os ingressos – explicou Coimbra.    

Um dos prêmios de jornalismo que Madeleine recebeu era para trabalhar com comunicação para mudança de comportamento em Angola, na África. O objetivo era a erradicação da pólio no país. O maior desafio era fazer o país começar a debater a doença, pois a maior preocupação era com a Malária e a vacina contra pólio não era prioridade.

- Como o acesso a internet naquele país era dificílimo, decidimos aplicar os conceitos das redes sociais, mesmo que as pessoas não utilizassem as plataformas. A lógica das mídias sociais é conseguir levar algo ou alguém ao centro das atenções e foi isso que fizemos ao colocar a vacina da pólio em destaque. A estratégia deu certo e a pólio foi erradicada em Angola – contou a jornalista.

Ela usou uma frase do escritor americano Mark Twain para explicar que a manipulação nas redes sociais nem sempre acontece por motivos nobres e éticos.

- Como disse Twain, é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas. E dessa forma, o jogo de manipulação vai deixando as pessoas cegas, ao ponto de fazer com que a dignidade humana dependa do julgamento e da aceitação de um grupo – avaliou Madeleine.

Questionada sobre a influência das redes sociais na democracia, ela destacou que o problema vai além da polarização entre direita e esquerda.

- Na política, quando alguém é induzido a agredir outras pessoas, fica estabelecida uma visão de mundo que não é de esquerda ou de direita. É uma visão autoritária, totalitária, na qual as pessoas que não concordam com o que você acredita são desrespeitadas ou violentadas. Na democracia, quem tem opiniões divergentes são adversários, não são inimigos – disse.   

No livro “Tratamento de Choque”, de sua autoria, Madeleine mostra como os sentimentos e emoções são manipulados nas redes sociais e ensina como não cair na manipulação.

A série de Lives “Momento Político” é transmitida toda quinta-feira, às 18h. Confira as datas e os convidados da série nas redes sociais do Interlegis.