Brasil Alfabetizado é insuficiente para ensinar alguém a ler e escrever, diz educador

Alfabetizar jovens e adultos em apenas oito meses, como vem sendo feito pelo programa Brasil Alfabetizado do Ministério da Educação (MEC), não é o ideal, diz o coordenador geral da Ação Educativa, Sérgio Haddad

Alfabetizar jovens e adultos em apenas oito meses, como vem sendo feito pelo programa Brasil Alfabetizado do Ministério da Educação (MEC), não é o ideal, diz o coordenador geral da Ação Educativa, Sérgio Haddad. Segundo ele, o próximo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria estender o prazo desse programa para três anos.

“Se for mantido os oito meses, o atendimento vai continuar deficiente. O processo de alfabetização exige um tempo maior. Por isso, insistimos em mais dois anos. O ano inicial seria para o processo de leitura e escrita, e os dois anos seguintes para a sedimentação dessa alfabetização”, explica Haddad.

Se o MEC não aumentar o prazo atual, a qualidade do ensino e a proporção no aumento do número de alfabetizados continuará insignificante, considera Haddad, coordenador da Ação Educativa, uma organização não governamental (ONG) que atua nas áreas da educação e da juventude.

Criado há três anos, o Brasil Alfabetizado busca capacitar alfabetizadores para ensinar cidadãos com mais de 15 anos a ler e escrever. Em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), figurava nesse cenário uma população de 16.294.889 de analfabetos. Atualmente, estão cadastrados no MEC 1.967.802 de alfabetizandos e 99.113 alfabetizadores, em 105.220 turmas.

Sérgio Haddad acredita que o programa só vai avançar nos próximos quatros anos se der atenção a três pontos: ter continuidade, dar assistência a grupos que necessitam de um acompanhamento particular e aumentar o tempo de permanência dos alunos no programa.

“O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) vai incorporar a educação de jovens e adultos. Isso vai ser positivo para os que passarem pelo Brasil Alfabetizado, pois poderão ter oportunidades no sistema de ensino. O grande problema da educação desse grupo é não ter uma expectativa de continuidade numa escola pública noturna. O Fundeb pode garantir isso”, assinala.

O Brasil também utiliza, em três municípios do Piauí, um método de alfabetização que tem ajudado trabalhadores rurais e domésticos a aprender a ler e escrever em 35 dias. Trata-se do método cubano de alfabetização "Yo sí puedo" ("Sim, eu posso", em espanhol), parte de um acordo de cooperação entre os governos brasileiro e cubano, implantado em outubro de 2005.

De acordo com o supervisor do programa de ensino de alfabetização no Piauí, o cubano Carlos Martinez, uma prova aplicada em 96 alunos dos três municípios mostrou a eficácia do projeto. "Desse total, 100% aprenderam os números, a escrever os nomes e a ler e 88% aprendeu a ler com qualidade semelhante aos alunos da primeira série", conta.